O rapaz que sabia acordar a primavera

O rapaz que sabia acordar a primavera

Era um rapaz. Tinha nascido nos montes, entre fraguedos bravios, pinheiros e águas claras. A sua casa de granito ficava à sombra de pedregulhos de rosto austero e de carão zangado, alguns enormes e esmagantes, como se restos, ainda, do castelo do emir mouro, que raptava raparigas, na noite do casamento, como diziam os contares das velhas de antigamente.

O pai e a mãe faziam contas à vida pobre, a vender e a comprar ovelhas, galinhas e ovos. Mas ele sabia, nos seus seis anos, espigados, que o dinheiro não comprava o sonho e continuava as suas brincadeiras de pensar e fingir, à beira do riozinho, de caudal pedregoso e apertado, de corrente cantante – a espraiar-se no poço dos paus e debaixo da ponte romana, entre os olmos.

Na margem, havia violetas selvagens e outras flores, pequeninas e delicadas, de que não sabia o nome.

Ali, era um dos seus poisos predilectos. Gostava de ver os alfaiates, de longas pernas, a cerzir e a passajar as águas claras, quietas e pouco fundas, onde chapinava e caçava rãs, e que na sua pouca fundura (mistério!) reflectiam toda a altura dos olmos.

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