Lugar de infância

Lugar de infância

Esta horta é um lugar de maravilha!

No sítio onde se guarda a lenha há teias de aranha, enormes: lembram uma toalha de renda! O musgo cresce junto à nora, e o céu, ali, é um céu verde, feito da folhagem da maior nogueira que deve existir na terra. Porque o milagre maior é, realmente, esta nogueira.

Na horta há ainda outra coisa espantosa! Uma coisa que maravilha e não me canso de olhar: uma velhinha, a dona de tudo aquilo.

Tem cem anos de vida!

Cem anos!

Tem mesmo. De verdade.
Na Primavera, quando o tempo está doce, as abelhas, as borboletas, as andorinhas, andam numa pressa, logo de manhã, e a filha, que também já é muito velha, pega numa cadeirinha que parece de brincar e senta-a debaixo da nogueira. Senta a velhinha de cem anos, que não se sabe bem se está acordada, se está a dormir, se está a pensar.
Logo que toca para o recreio, já disse, corro para lá. O Tomba-Lobos lambe-lhe as mãos e ela ri-se. Mas não diz nada. Faz-lhe só uma festinha, na cabeça.
À sua volta andam as aves e o perfume doce das laranjeiras em flor.

ler...