Agradecer

Agradecer

“Obrigado, Mãe-Terra. Obrigado, Pai-Céu. Obrigado por este dia.”

O meu pai diz isto, todas as manhãs, quando está no campo perto de nossa casa.

Tal como os seus amigos índios – cantores e contadores de histórias – o meu pai acha que as coisas da Natureza são uma dádiva. E que devemos dar algo em troca dessa oferta. Que devemos dar graças.

O meu pai agradece às rãs e aos grilos, que cantam no riacho, e a todos os pequenos seres de seis ou oito patas que tecem histórias minúsculas mesmo junto à terra.

Agradece aos cogumelos selvagens, que cheiram como as abóboras.

Agradece às árvores, que agitam os braços e fazem voltear as folhas na brisa.

Agradece à raposa de orelhas pontiagudas e cauda farta e ondulante, que ele entrevê por um instante por entre a relva alta.

Agradece aos veados, que deixaram pegadas que parecem dois dedos impressos no pó do chão a apontarem para a água.

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