A porta para um outro mundo

A porta para um outro mundo

Bafienta, húmida, fria. Uma sala com paredes altas e grossas, onde caberiam à vontade duas casas, uma em cima da outra. O tecto é como a abóbada de uma antiga capela. As gretas nas paredes esboroadas fazem lembrar pinturas rupestres, quando observadas durante algum tempo. A luz do dia tem de abrir caminho por entre telhados, deslizar por um estreito pátio até às duas janelas e pôr à mostra o pó que há em cima dos móveis. Móveis antigos e confortáveis que absorvem o frio das paredes: uma secretária preta lacada, uma poltrona bem almofadada, um sofá largo, uma mesa redonda, três cadeiras guarnecidas a latão com assento em couro. Ao lado de um candeeiro de pé amarelo, um fogão de porcelana.

O avô não precisa de muito mais. E Oliver também não.

Não aceitou o quarto triplo com vista para o mar que iria partilhar com os pais em Maiorca. Em lugar disso, aceitou a oferta do avô, que só pode visitar de vez em quando ao fim-de-semana.

— Ofereço-te uma viagem — dissera o avô. — Não tenho dinheiro para ir à América e muito menos ao Alasca… Não posso, portanto, realizar os teus sonhos, mas posso proporcionar-te alguns sonhos diferentes: belas viagens, viagens de sonho até ao fim do mundo. Queres?

Oliver quis.

Meteu logo as suas coisas na mala, apenas algumas, porque precisa de poucas. Não terá nenhum hóspede de hotel a olhá-lo de lado por a sua T-shirt mais parecer uma pega de cozinha. Ninguém que repare nas suas sapatilhas desfiadas, que não condizem com um jantar à luz de velas. Ninguém que lhe diga que está muito frio ou muito calor, por vestir a sua camisola vermelha preferida.

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